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terça-feira, 5 de outubro de 2010

GRUPO EDUCA-AÇÃO - ESTIGMAS E ESCOLA: UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE O ALUNO CONSIDERADO PROBLEMA

Abordar esse tema na contemporaneidade remete-nos, de imediato, a refletir a respeito do contexto escolar sob um enfoque mais amplo, desvinculado do senso comum, o qual aponta os problemas familiares e as necessidades educativas especiais como a gênese do referido estigma. Nesse contexto, as visões epistemológicas que norteiam as práticas educativas não são consideradas.
Segundo Patto (2008), mesmo no caso de uma psicodinâmica familiar dificultadora do bom rendimento escolar, não se pode entender o aproveitamento escolar de uma criança sem levar em conta a maneira como a escola se relaciona com a sua subjetividade.
O estigma "aluno problema" é uma questão complexa cujas causas parecem ser múltiplas e diversas, necessitando de uma análise conceitual capaz de superar o paradigma tradicional e a visão empírica que trata dessa temática como resultado natural dos processos escolares.
Surge, neste momento, a necessidade de delimitar o campo conceitual do termo "estigma", que nesse percurso foi guiado pelo pensamento de Erving Goffman, por tratar-se de um autor que reexamina os conceitos de estigma e identidade social, os desvios e o comportamento desviante, detendo-se na situação de pessoa estigmatizada, revelando sua imagem humanamente explicada à luz da antropologia social.
O termo "estigma", portanto, será usado como referência a um atributo profundamente depreciativo que leva o indivíduo a tornar-se diferente de outros que se encontram na mesma categoria social e, neste caso, o aluno dentro do contexto escolar.
A sociedade estabelece os meios de categorizar as pessoas e o total de atributos considerados como naturais para os membros de cada uma dessas categorias. Os ambientes sociais estabelecem as categorias de pessoas que têm probabilidade de serem neles encontrados (...) então quando um estranho nos é apresentado, os primeiros aspectos nos permitem prever sua categoria e os seus atributos, a sua ‘identidade social’ (...)"
(Goffman, 1988,p.11-12)
Este pensar é o que faz mover muitas vezes as ações que ocorrem no ambiente escolar, principalmente quando o professor, baseado nessas preconcepções, transforma as expectativas em relação aos seus alunos em exigências apresentadas de modo rigoroso. Goffman esclarece que "caracteristicamente, ignoramos que fizemos tais exigências ou que elas significam até que surge uma questão efetiva".
A partir do momento que existe a percepção que determinado aluno não preenche as expectativas do ambiente escolar, naturalmente ele é considerado um aluno problema.
Na maioria das vezes, a escola não aceita ritmos e comportamentos diferenciados no percurso da aprendizagem pois existem padrões rígidos que acomodam regras e certezas absolutas que tendem a se cristalizar construindo amarras imobilizadoras, capazes de escrever na história de uma criança um capítulo de fracasso e decepção.
É importante ressaltar que esta concepção incorporada na história escolar deste aluno, impede que ele possa ser visto como um sujeito na sua inteireza, dotado de potencialidades e capaz de aprender a partir do desenvolvimento de suas capacidades.
Portanto, é de suma importância reconhecer a necessidade da quebra do paradigma tradicional positivista, o qual prestigia a fragmentação do conhecimento e a busca pela igualdade nas formas de ensinar e aprender como forma de possibilitar o avanço necessário para a prática de uma educação realmente inclusiva.
Pensar na proposta escolar inclusiva emerge como desafio central da prática escolar contemporânea, exigindo a transformação conceitual e prática da escola para a atenção à diversidade. Faz-se necessário reconhecer a heterogeneidade como a realidade do nosso cenário educacional e humano, rompendo, definitivamente, com todo e qualquer dualismo que impeça a percepção do sujeito na sua integralidade.
O interesse em discutir a respeito das diferenças e das subjetividades no contexto educacional poderá provocar a necessidade de uma reflexão profunda a respeito da prática pedagógica, seus ritos, mitos, conceitos e preconceitos, na tentativa de desconstruir o estigma "aluno problema".
Finalmente, importa interrogarmo-nos sobre o real significado desta mudança conceitual para todos envolvidos no cenário educacional.

Vera Savedra
Grupo Educa-Ação

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