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quinta-feira, 15 de março de 2012

O homem comprometido com o próprio homem

A sociedade dos homens se organizou, de há muito, com o fito de buscar atender aquilo que passou a ser chamado de bem comum, ou seja, interesses pertencentes a todos.
Passados os anos, os séculos, com o processo evolutivo, surgiram novas idéias e concepções, chegando-se em nossa época certos da necessidade de se por fim a discriminações sociais, econômicas, afetivas, ou de qualquer sorte.
Correto o entendimento, mas como fazê-lo?
O Estado, nome dado a sociedade organizada pelos homens, apresenta-se impotente para o agir concebido, não atendendo, em certos casos, às mínimas necessidades de camadas sociais definidas como de atendimento prioritário, tal qual são crianças e adolescentes.
Os homens do contexto social costumam muito reclamar, muito falar, expressando manifestações como: “...O Estado não faz nada!”. Vale a pergunta: “...E os homens que isso falam, o que fazem?”.
Alguns anos atrás, a partir de uma visita em casa de acolhimento de meninas, na comarca de Pelotas, na qual verificamos que no banheiro e na sala de refeições, em pleno inverno de julho, com frio, como dizemos nós gaúchos, de “renguear cusco”, estavam os vidros das janelas quebrados, já tendo, a administração da casa, solicitado a troca em tempo passado de quase trinta dias, nada tendo sido feito pela lentidão e burocracia da máquina pública, imaginei um projeto, levado a efeito prático, nominando-o “Adote um Abrigo”.
Da concepção anímica passamos a construção prática, e, em parceria com a Secretaria de Cidadania de Pelotas, colocamos o pensamento em termos concretos no seio social.
A essência do projeto é a conclamação de que crianças e adolescentes não são uma questão de governo, mas sim uma questão de Estado, que somos todos nós. Assim, chamamos a sociedade a trabalhar com as casas de acolhimentos, nas mais diversas e variadas tarefas, tais como trocar vidros, doar óculos, dar consultas dentárias, ler histórias, dar aulas e reforço escolar, realizar atividades lúdicas, enfim, tudo aquilo que o homem, como ser solidário que é, em sua essência, pode, se o quiser, fazer, realizar em favor de quem está ao seu, de outrem.
Um elemento importante do projeto é a vedação a doação de dinheiro. O elemento monetário foi, desde de o início, afastado do projeto, que busca, sim, o agir concreto e efetivo do ser humano em favor de seu próximo, do outro, de pessoa que sofreu ou está sofrer as mais danosas condutas a seus direitos básicos.
Passados vários anos de trabalho, o projeto continua vivo e forte, hoje com 39 padrinhos das casas de acolhimentos de Pelotas, número esse integrado por pessoas físicas e jurídicas que resolveram problemas básicos, muitas vezes tão pequenos, mas de consequências tão grandiosas, de tais instituições, superando, dessa forma, a conduta estática do Estado, por seu governo, geradora de sua enorme falta de efetividade, por seu governo, para com o contexto social da infância e adolescência.
Importante se declinar que como isso não se afastou a responsabilidade do Estado para as casas de acolhimentos, muito pelo contrário, a cobrança sobre ele aumentou, pois os padrinhos se constituem em instrumentos de fiscalização, exigindo melhorias nas casas por eles apadrinhadas.
Para ingressar no projeto basta inscrever-se junto à Promotoria de Justiça e, em aceito, assinar um termo de compromisso que deve ser, concludentemente, colocado em execução, sob pena de desligamento.
Outra benesse do projeto é a regulação que faz quanto ao chamado “trabalho voluntário” que muitas pessoas faziam nas casas de acolhimentos, sem qualquer controle do Estado, servindo, tais atividades, em diversas situações, de instrumento para encaminhamentos, por exemplo, de indevidos pedidos de adoções.
Enfim, ao término de mais um ano, o projeto segue seu rumo, estando forte e eficáz. Espera-se que em 2013 ganhe ele ainda mais contundência, com a comunidade da comarca de Pelotas cada mais entranhada em atividades de proteção a criança e ao adolescente.
Vale aqui os dizeres de Gibran: “O Trabalho é a mais efetiva manifestação do amor”.
Que assim seja.


José Olavo Bueno dos Passos
Promotor de Justiça
Pelotas/RS

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