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terça-feira, 1 de março de 2011

GRUPO EDUCA AÇÃO - A EDUCAÇÃO À LUZ DA FILOSOFIA DIALÉTICA

Trataremos aqui do tema educação à luz da filosofia dialética observando como a práxis educativa pode ocorrer na escola através de um processo dinâmico onde co-existem a contradição e o diálogo.
Constata-se no cotidiano da escola, o aumento da violência. Inúmeras são as ações para dirimi-la. Questiona-se então como a práxis educativa está ocorrendo. Será numa comunicação dialógica? A violência mantém-se na escola devido à contradição?
Muitas vezes o Gestor e o Orientador Educacional, recorrem a outras instâncias para o assessoramento aos problemas de violência na escola. O Ministério Público de Pelotas, através do Projeto Escola Luz, criou o Grupo Educa-Ação, nome que sugeri e que foi escolhido pelos colegas, visando atender essa realidade. O Grupo Educa-Ação desde junho do corrente ano voluntariamente tem assessorado as escolas que o procuram para tal e o mesmo desenvolvido uma ação dialógica com estudos, discussões e feed-back da ação empreendida visando dar respostas à comunidade escolar sobre a ação realizada.
Mas, para que se possa estabelecer uma práxis pedagógica de forma dialética é necessário inicialmente entender-se o significado do termo dialética. O referido termo é oriundo do grego (διαλεκτική (τέχνη) e do latim dialectĭca. O prefixo “dia” dá idéia de reciprocidade ou de troca: dialegein, que quer dizer, trocar palavras ou razões, conversar ou discutir. O substantivo dialectike, é a arte da discussão.(FOULQUIÉ, Paul, Dialética.Gráfica Europan, 1979: 9).
Na Grécia Antiga, a dialética era considerada a arte do diálogo, da contraposição e contradição de idéias que encaminha para outras idéias. Com o tempo passou a ser reconhecida como a arte de dialogar, discutir. Portanto, na escola, a práxis educativa baseada na discussão não pode ser vista como violência, mas como um dos caminhos para a apresentação de idéias de modo a estabelecer-se na escola, na sala de aula, etc., um processo que é dinâmico e circular, visto que deverá ter um retorno, um início que coincide com o que se entende por fim.
A dialética entendida como discussão, se mostra como algo onde existe a contraposição de idéias. A idéia inicial, denominada tese é contestada por uma idéia oposta, ou antítese. De ambas é retirada uma outra idéia, a síntese.
Heráclito, filósofo grego, dizia que: “Tudo muda tão rapidamente, que não é possível banhar-se duas vezes num mesmo rio.” Portanto, esse filósofo, referia-se ao movimento como uma constante fazendo analogia ao movimento da água. O movimento pode ser entendido assim, como o atributo fundamental das coisas, sua substância. Nesse sentido então pode relacionar-se essa idéia com a realidade. “A realidade não é apenas Ser, ela não é, por igual, apenas Não-Ser. A realidade é uma tensão que liga... Ser e não-Ser” (CIRNE-LIMA, Dialética para principiantes. Porto Alegre: EDIPUCS, 1996, p. 19. In: SOUZA, G. ‘ Dialética – Resumo histórico e conceit uação’ (Disponível on line em: www.scielo.br/pdf/es/v20n66/v20n66a6.p. Acesso em : 25/03/09.)
Pode-se também reconhecer em Sócrates a utilização da dialética no método de ensino que desenvolvia com seus interlocutores dividido em ironia (interrogação) e maiêutica (parturição das idéias). No pensamento de Aristóteles a encontramos no desenvolvimento do princípio da identidade e ao priorizar a estética. Aristóteles criou a lógica formal que foi aplicada até a modernidade.
A dialética é reconhecida em diversos pensadores. Georg Wilhelm Friedrich Hegel desenvolveu o idealismo e dividiu a dialética em tese (argumento), antítese (contra-argumento) e síntese, sendo esta última, a superação das anteriores e o começo de um novo processo.
Segundo ABBAGNANO (1998, p. 273): ”Na filosofia moderna e contemporânea a palavra dialética, tem na maioria das vezes, o significado hegeliano.” Segundo o autor citado, no primeiro caso, “é conservado pelas numerosas ramificações do Idealismo romântico”. No segundo, “é adotado por pontos de vista diferentes, mas que utilizam a noção em que este se baseia.”
Muitos outros pensadores estão ligados à dialética. Dentre eles, Karl Marx (1818-1883), que reformulou o conceito de dialética em Hegel, voltando-o para as lutas de classes. Sua influência é indiscutível na dialética materialista ou materialismo dialético mostrando as contradições da realidade. Não se pode deixar de mencionar que pensadores como: Lênin (1870-1922), György Lukács (1885-1971), Antônio Gramsci (1891-1937) e Sartre (1905-1980), dentre outros, desenvolveram o pensamento na perspectiva dialética.
Para SOUZA, G. (op. cit.), no Brasil a dialética iniciou com Vieira Pinto na década de 1950-60 e formou dois grupos: O primeiro, sem o enfoque existencialista e fenomenológico presentes em sua origem, representado por Saviani com a pedagogia histórico-crítica. O segundo, apresentado por Paulo Freire, constituído pelos elementos existencialistas e fenomenológicos que influíram no pensamento de Vieira Pinto.
Carlos R. Jamil Cury, em seu livro ‘Educação e Contradição’, página 30, parágrafo II, citado por Elias GALVÊAS, refere-se a dialética como segue:

“(...) a realidade no seu todo subjetivo-objetivo é dialética e contraditória, o que implica a centralidade desse conceito na metodologia proposta. A contradição sempre expressa uma relação de conflito no devir do real. Essa relação se dá na definição de um elemento pelo que ele não é. Assim, cada coisa exige a existência do seu contrário, como determinação e negação do outro. As propriedades das coisas decorrem dessa determinação recíproca e não das relações de exterioridade” (Disponível no site: maxpages.com/elias/Dialetica_na_Praxis_Educativa). Acesso em: 25/03/09).

Nesse sentido é que a escola deve conhecer e trabalhar os elementos que co-existem na contradição estabelecendo uma comunicação dialógica com alunos, professores e pais.

Mara Sirlei Lemos Peres
IF-SUL/CME/Grupo Educa-Ação

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